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O Brasil estreou oficialmente o uso de tecnologias de reconhecimento facial na área de segurança pública este ano. Mas, após um ano de experiências em cinco estados do Brasil, a



O Brasil estreou oficialmente o uso de tecnologias de reconhecimento facial na área de segurança pública este ano. Mas, após um ano de experiências em cinco estados do Brasil, a única certeza é que a tecnologia deve agravar o encarceramento em massa, principalmente de jovens e negros das periferias brasileiras. Além disso, é ineficiente. A Rede de Observatórios da Segurança monitorou os casos de prisões e abordagem com o uso de reconhecimento facial desde que eles foram implantados em março e descobriu que, dos casos em que havia informações, 90,5% das pessoas presas porque foram flagradas pelas câmeras eram negras. A Bahia liderou o número de abordagens e prisões com a nova técnica: 51,7% das prisões, seguida do Rio, com 37,1%, Santa Catarina, com 7,3%, Paraíba, com 3,3% e o Ceará, com 0,7%.

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Ana Carolina Lima

De março a outubro, foram 151 pessoas presas por meio dessa tecnologia nos cinco estados. O monitoramento da Rede foi feito com base nas matérias publicadas por dezenas de veículos de imprensa e usa as informações veiculadas nas contas oficiais das polícias e de outros órgãos nas redes sociais. As prisões com o uso de reconhecimento facial têm ocorrido desde março, sendo que os meses de abril, setembro e outubro registraram a maioria dos casos. Setembro foi o ápice, com 31,2% das prisões.

Não se sabe como se deram essas prisões. Tentamos obter dados, via Lei de Acesso à Informação, sobre a quantidade oficial de prisões e o número de pessoas abordadas de forma equivocada, mas não houve retorno do pedido. Em alguns casos monitorados foi difícil até mesmo encontrar informações completas sobre o perfil da pessoa presa ou abordada, onde o reconhecimento foi realizado e os motivos da eventual prisão. Em 66 casos, havia informações sobre sexo: 87,9% dos suspeitos foram homens e 12,1%, mulheres, com idade média de 35 anos. No que se refere à motivação para a abordagem, chama a atenção o grande volume de prisões por tráfico de drogas e por roubo: 24,1%, cada uma.

Para jovens e negros, a tecnologia é a certeza de que continuarão a ser abordados de forma preferencial, em nome da chamada guerra às drogas. O reconhecimento facial tem se mostrado uma atualização high-tech para o velho e conhecido racismo que está na base do sistema de justiça criminal e guia o trabalho policial há décadas.

Fonte: CESec