
Entre os dias 28 e 31 de maio de 2025, o Aqualtune Lab participou do Fórum da Internet no Brasil (FIB15), um dos mais importantes espaços de discussão sobre governança digital do país. O coletivo esteve presente em diversas atividades, fortalecendo o compromisso com uma internet antirracista, democrática e acessível.
Nosso codiretor, o professor Celso Oliveira, participou de três agendas fundamentais, trazendo à tona questões urgentes que conectam raça, tecnologia e justiça social:
Inteligência Artificial e Justiça Ambiental
Na mesa “Opacidade Ambiental e o Desastre Ecológico por Trás do Desenvolvimento da IA”, Celso Oliveira trouxe à tona uma importante provocação sobre o papel da regulação e da responsabilidade institucional diante do avanço da inteligência artificial.
Ele destacou que o Aqualtune Lab está iniciando um projeto de pesquisa para entender os desdobramentos das denúncias de violações nas plataformas, e reforçou o papel da sociedade civil organizada na construção de uma regulação justa.
“São duas peças fundamentais: o PL das plataformas e o PL da inteligência artificial. Se a gente não tiver força e organização, essas peças vão passar de forma muito prejudicial para a cidadania do povo brasileiro.”
Celso ainda alertou sobre o poder do lobby das Big Techs no Congresso Nacional e a necessidade de articulação entre movimentos sociais, organizações e órgãos públicos comprometidos com a democracia digital.
“A atuação da extrema-direita não acontece só no meio ambiente. Ela está em todos os aspectos da nossa cidadania. Precisamos resistir também na regulação da tecnologia.”
Acesso seguro: verificação e estimação etária no desenho de uma internet para crianças
Celso Oliveira fez uma intervenção potente, conectando o cuidado com a infância à urgência de políticas públicas efetivas:
“O celular mata também. Internet sem regulação mata também.”
Com ênfase na responsabilização do Estado e das plataformas, Celso foi direto ao apontar a omissão como um risco concreto para a proteção de crianças e adolescentes no ambiente digital.
“Precisamos garantir que as ferramentas de verificação etária respeitem as especificidades das comunidades negras e periféricas, evitando exclusões e promovendo uma internet verdadeiramente inclusiva para todas as crianças.”
“Eu acho que tem uma bala de prata, sim. A bala de prata é vontade política. É fazer projeto de regulação das plataformas, fazer as coisas acontecerem. Fazer com que cumpra o ECA. Isso é vontade política.”
A fala reforça o posicionamento do Aqualtune Lab de que a proteção da infância online deve estar no centro das decisões políticas sobre a internet no Brasil — e que isso exige coragem para enfrentar o poder das big techs.
Educação quilombola e conexão com justiça
Na mesa “A inclusão digital em escolas rurais e quilombolas”, Celso Oliveira iniciou sua fala com um alerta:

“Essa mesa se propõe a falar de escolas quilombolas, e a gente viu aqui como falar de escolas quilombolas é difícil — talvez um pouco pela falta de quilombolas na mesa.”
Celso enfatizou que a inclusão digital precisa ir além do acesso técnico. Deve envolver respeito e valorização dos saberes tradicionais dos povos quilombolas e das comunidades rurais:
“A gente não está falando só do conteúdo de matemática e de português. Quando falamos de escolas ligadas a povos tradicionais, também estamos falando sobre o saber tradicional.”
Relembrando o pensamento de Antônio Bispo dos Santos, o “Nego Bispo”, ele reforçou:
“Nego Bispo prezava que não adianta a gente manter a cultura colonial e ensinar a ser como os outros. Temos nossos próprios saberes, que devem ser gerados, aperfeiçoados e também mantidos.”
Celso também fez críticas diretas à desigualdade de acesso à internet e à lógica das operadoras:
“Nas escolas rurais e quilombolas, a equidade está difícil. As operadoras usam zero rating para WhatsApp e redes sociais, mas não para nenhum serviço público, nem para conteúdos educacionais. Isso precisa mudar.”
Conexões para o Bem Viver: reparação, justiça racial e tecnologias digitais em pauta em Salvador
Nos dias 28 e 29 de maio, Salvador sediou o evento “Conexões para o Bem Viver: Reparação, justiça racial e tecnologias digitais”, reunindo organizações do movimento negro e da sociedade civil para debater inclusão digital com foco em justiça social.
O encontro gratuito ocorreu das 14h às 19h, no CEAO/UFBA — Praça Inocêncio Galvão, 42, no Largo Dois de Julho.
A atividade foi organizada pela ABONG – Associação Brasileira de ONGs, em parceria com o Odara – Instituto da Mulher Negra, a Marcha das Mulheres Negras, o CEPENDA – Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará, e o ELO – Ligação para a Cidadania.
Com uma programação paralela ao Fórum da Internet no Brasil (FIB), o evento criou um espaço de troca e articulação em torno de temas fundamentais como:
- Reparação histórica
- Governança digital democrática
- Combate ao racismo algorítmico
- Soberania tecnológica dos povos negros
A construção coletiva de soluções digitais com justiça racial foi o eixo central do encontro, que contou com falas, oficinas e rodas de conversa entre representantes de diversos territórios e organizações negras do país.
Celebração e reconhecimento

Encerramos a semana com alegria pela premiação do companheiro Paulo Rená, um dos homenageados no Prêmio Destaques do CGI.br, por sua trajetória e contribuição para a construção de uma internet mais democrática e orientada aos direitos humanos.
Para nós do Aqualtune, ver Paulo ser reconhecido é também celebrar a caminhada coletiva de quem acredita no poder transformador da justiça digital com equidade racial.